quinta-feira, 19 de junho de 2008

SE


Triste, muito deprimido, lembrou daquela história. Aquela na qual um pobre lavrador em meio a uma grande tempestade vê o rio de perto da sua casa transbordar e começar a molhar os móveis.

Tempo depois a água continua subindo e o homem, que vivia só e sem vizinhos, não tem a quem recorrer e se refugia no telhado.

Com toda a fé, ele tinha certeza de que Deus lhe socorreria.

Então, a ajuda começou a chegar. Um homem, de caiaque, surge do meio do nada e lhe oferece ajuda. Que prontamente tem uma resposta.

- Não, não precisa se preocupar, Deus vai me ajudar.

Hora depois surge uma pessoa em uma lancha oferecendo ajuda. O lavrador responde:

- Não, obrigado. Vou ficar aqui porque Deeeuuus vai me ajudar.

Com a proximidade da noite outra ajuda aparece. Um helicóptero. Moderno. Daqueles que o exército usa apenas nos momentos de grande urgência. Lançaram então uma escada. E usando um alto-falante eles ordenaram:

- Suba nessa escada e entre no helicóptero agora.

- Não. Não vou porque Deus vai me ajudar.

E no meio da noite, sem a interrupção das chuvas, a água subiu ainda mais e o crente lavrador não teve escapatória.

Chegando ao Céu ele marca uma audiência com Deus.

Assim que viu o Todo-Poderoso falou:

- Poxa, Senhor. Pensei que o Senhor fosse me ajudar!

Deus responde:

- Como não! Eu mandei até helicóptero!

Assim, depois de refletir sobre essa história, ele, o homem triste lá do começo do texto, pensou em todas as oportunidades que a vida lhe deu e não foram aproveitadas.

Lembrou da garota da escola que sempre lhe deu atenção demais. Achava que ela dava alguma condição. Ignorava aquela situação e nunca tentou uma aproximação mais, mais... Sei lá, tascar um beijo na boca e pronto.
Lembrou a dor que deu quando a viu com outro.

Pensou também no emprego que recusou, mesmo estando desempregado, porque achava que não estava a sua altura. Hoje, é um dos ramos mais promissores.

Foram várias as vezes que a vida, o destino, ou uma força maior, lhe ofereceu duas opções. Duas vias. Dois finais.

Pensa que se estivesse feito aquilo e não isto teria sido mais feliz. Mais dono de si mesmo.

Às vezes pensa que o “se” é um grande engano. Também é um grande tirano. Que seu maior castigo é a dúvida.

Tem a certeza que todos, sem exceção, estão subjugados pelas forças deste ser temido chamado “se”. E que se eu não tivesse escrito a história desse rapaz também não estaria lembrando agora de todas as vezes em que vacilei e fiz o que não devia e não fiz o que deveria.

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