quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bom Dia, Mesmo Dia



44 anos de idade. Administrador de uma empresa de médio porte. Bom salário. Casa própria e carro do ano. Também tinha um apartamento no litoral do Rio de Janeiro. Rodolfo era um homem pacato, vivia em boas companhias e nunca precisou pedir empréstimo para banco algum.

No entanto sua vida era monótona. Resumia-se em trabalhar, às vezes sair com amigos do trabalho nos fins de semana, fazer compras para casa e para o seu gato, o Lindomar.

Rodolfo não tinha filhos, tão pouco namorada. Não se interessava em lugares movimentados, mas queria estar próximo a pessoas. Ele bem que tentava visitar algumas casas de entretenimento noturno, os famosos bordéis, mas odiava o cheiro de cigarro.

Não consumia bebidas alcoólicas e nem tinha vícios, como cigarro ou jogos. No máximo apostava na Mega Sena. Raramente freqüentava a igreja. Era católico, batizado e crismado. Era o exemplo típico do que chamam de conservador.

Um dia decidiu que não aceitaria mais a forma como vivia. Queria ação, queria viver perigosamente. Queria ser um fora-da-lei.

No horário de almoço pediu o prato mais caro. O garçom estranhou, pois seu cardápio não era tão exigente e nem variado. Rodolfo então aproveitou o fato de ser conhecido no restaurante e dirigiu-se ao banheiro, e quando menos esperavam desviou o passo e saiu do restaurante sem pagar. Já se considerava um caloteiro.

Escovou os dentes no restaurante do shopping. Porque ele queria viver perigosamente, não relaxado- da saúde não podia descuidar. Pegou o carro que estacionou na calçada e seguiu pela avenida principal da cidade. Parou em uma farmácia. Pediu ao balconista uma caixa de Viagra. O rapaz com um sorrisinho sínico no rosto pediu a receita médica. Rodolfo enfiou a mão nos bolsos e fingiu ter esquecido o papel. Inclinou-se sobre o balcão para aproximar-se do ouvido do balconista e ofereceu um suborno. Um bom valor que rapidamente fez o rapaz esquecer as recomendações dos superiores.

Os comprimidos foram entregues ao futuro delinqüente, que se encaminhava ao caixa para pagar a compra com a mercadoria nas mãos. Quando estava a mais ou menos três metros do local do pagamento ele fugiu. Isto mesmo, correu sem mais explicações.

Aproveitou a distração do segurança, que paquerava a funcionária da loja vizinha, para cometer outro crime. Correu como nunca até chegar ao carro. Acelerou além da velocidade limite daquela avenida.

A cada milímetro que o velocímetro avançava o seu coração batia acompanhando. Enfim sentia adrenalina. Imaginou que a sensação daquele momento poderia ser melhor até do que saltar de pára-quedas. Melhor até do que cantar a mulher do chefe. Algo que sempre quis e nunca teve coragem.Sentia o sangue em suas veias. Sentia que agora estava chamando a atenção de alguém. Era uma pessoa procurada. Lembrariam do que ele fez por um bom tempo.

Nunca mais voltou ao emprego. Continuou na cidade por nove dias. Resolveu todos os trâmites do pedido de desligamento do emprego por meio de um advogado. Ele já não mais morava em sua residência. Pôs o imóvel à venda. Levou o gato Lindomar e todas as roupas para um quarto de hotel.

Disfarçava-se quando precisava ir à rua. Já não tinha mais carro. Sempre usava os serviços de um taxista. Nunca o mesmo. Em sua cabeça ele era o inimigo número um da cidade. Ou pelo menos da avenida principal.

Ao se desfazer de todos os bens que possuía ele pagou os honorários do advogado- porque com advogados não se brinca- e mudou de ares. Queria continuar sentindo a euforia da perseguição. Estava bem na pele da presa. Criava estratégias de fuga a cada momento.

Começou então sua peregrinação pelo mundo em busca de aventura. Viajou de avião. Trem. Navio. Ônibus e até a pé. Enfrentou vento, brisa, calor e frio. Tudo com muito conforto. Trabalhou a vida toda e tinha uma boa poupança.

Conheceu pessoas de todos os tipos. Muitas culturas. Nunca esteve satisfeito. Esteve errante.

Hoje se encontra numa cidade paraibana chamada Cabedelo. Dono de uma bonita pousada à beira-mar. Costuma pescar nos fins de tarde. Também faz artesanato e cultiva girassóis no quintal. Ah, a farmácia mais próxima está a 42 Km.

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