quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Reino das Possibilidades



No Reino das Possibilidades algo de estranho pairava no ar. Bem, na verdade, ar não existia. Não havia atmosfera. Nem matéria. Era tudo imaginário. Especulativo. Mas isto não vem ao caso, o que importa é a movimentação que ocorria entre os habitantes daquele espaço. Principalmente entre os seres superiores dali.

Os deuses que regiam aquele lugar estavam insatisfeitos com a ordem das coisas. Estava acontecendo naquele momento um verdadeiro conflito de egos de proporções universais. Uma guerra de titãs para definir quem seria responsável pelas ações dos humanos.

O deus Acaso estava em desacordo com o deus Destino. Ambos não aceitavam o desenrolar das histórias de cada um dos mais de sete bilhões de habitantes do planeta Terra. Acontecia que no momento que era para o Acaso agir o Destino antecipava-se e mudava o resultado do fato. E o movimento contrário também ocorria - o Acaso se sobrepondo ao Destino. Na mesma frequência.

Esta discussão tomou todo o Reino. Sugestões diversas foram levantadas para delimitar os espaços, as jurisdições assim dizendo, de cada entidade. Debates intermináveis aconteciam e enquanto isso um verdadeiro caos se instalava sobre a vida de cada pessoa.

Encontros amorosos que estavam para acontecer, mas que só faltava aquele empurrãozinho, não aconteceram. Placares memoráveis no esporte que estavam agendados não entraram para a história. Até a bolsa de valores de uma potência econômica mundial, que parecia tão racional, tão sólida, foi atingida. O mundo entrou em recessão.

Tudo que estava em harmonia desandou. O Reino das Possibilidades entrou em alerta e o ser supremo, a entidade máxima, o deus Tempo convocou uma assembleia geral.

O Todo Poderoso posicionava-se no andar mais alto, sobre um altar de areia, e de lá podia ver todos seus pares. Um andar abaixo estavam seus conselheiros: os deuses Passado, Presente e Futuro. E à mesma altura e como secretária-geral estava a deusa Hora.

Ocorria ali uma espécie de acareação. O Acaso e o Destino expunham seus motivos para requererem maior autonomia de um sobre o outro. Focaram na importância que tinham sobre a humanidade. Da dependência da vida para com eles.

Notou-se então que os motivos citados eram idênticos. Que os dois tinham o mesmo poder, mas que se julgavam mais poderosos do que seriam. Que os seres humanos eram sujeitos sim à ação deles, mas cada pessoa tinha o livre arbítrio e, portanto a força dos deuses não era superior à vontade própria, ao desejo de cada um em guiar sua própria existência.

O deus Tempo então, a partir daquele momento, decretou que os deuses Acaso e Destino seriam um só. Como irmãos siameses. Ambos agiriam em conjunto, pois querendo ou não eles pensavam da mesma forma. Apenas tinham gênios fortes e eram muito teimosos, orgulhosos.

A decisão foi acatada. A vida voltou ao curso normal. Mas ainda hoje quando alguém reclama do Destino o Acaso dá um leve sorriso. Aquele de canto de boca. Discreto. Para não ofender.

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