
Ganhou uma lanterna. Toda colorida. Pequena. O aparelhinho surgiu para ela como uma coisa mágica. Não que nunca tivesse visto uma do tipo, mas nunca teve uma lanterna.
Abriu aquela embalagem de plástico, que só protege mesmo da poeira, e foi tentar usar. Mas para sua decepção faltava o essêncial, faltava a pilha.
Então correu de casa em casa, passou por todos os vizinhos e nada de encontrar um par de pilhas, até que, ufa, conseguiu.
Enfim a lanterna estava pronta para a missão que a garotinha havia definido. Aquele objeto seria seu único instrumento para ajudá-la a desbravar os mistérios da noite.
Ao clicar o único botão da arma de luz ela sentiu que tinha o poder de enfrentar o que ninguém antes tivera coragem. Mesmo que este lugar fosse um cantinho qualquer do quintal de casa.
Para ela tudo era um mistério só. Aquele monte de caixas jogadas lá no canto poderiam ser baús com tesouros de outras épocas. O brilho que vinha do chão não era simples pó de brita ou pedaços de metal, mas sim diamantes daquela terra encantada. Tudo era descoberta e alegrias. Nem aqueles seres que não paravam de se mexer na parede a assustava. Aquelas sombras nada mais eram do que os galhos de planta. Ela era criança mas não era boba. Sabia distinguir bem.
Mas para ela, manter o ar de mistério em sua saga pelo jardim era a coisa mais importante que tinha feito.
Pulava sobre os obstáculos. Se abaixava quando algum inimigo estava à espreita. Iluminava os menores objetos para admirar a beleza da noite. Na ausência da luz.
Levou a sério toda aquela brincadeira.
Poderia encarar qualquer vilão dos desenhos que costumava assistir na TV. Mas ao passar pelo jardim sentiu que algo deslizava em sua perna. Não teve dúvidas:
- B A R A T AAAAA -gritou e correu de volta para casa.
Paciência, né, todo herói tem seu ponto fraco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário