sábado, 5 de junho de 2010

Obina é Seleção


O calendário marcava a segunda terça-feira do mês de Maio. Os jornais anunciavam a visita do Papa a Portugal, a campanha de vacinação contra a gripe H1N1, ladrões baratos sendo presos e outros fugindo, mas o fato mais importante do dia era a convocação dos vinte e três jogadores de futebol para a Copa do Mundo.

Foi consenso nacional de que ninguém concordava com os eleitos. Pediram mais jogadores habilidosos. Pediram menos volantes. Pediram um novo treinador. Pediram até que o Brasil não enviasse a seleção para a África do Sul. Achei tudo muito exagerado. Pessoas que ao menos sabem como se joga futebol palpitaram, tem gente que nem sabe o que seja um volante no futebol.

Para ser sincero não tenho muito que discordar. Senti falta apenas de um jogador. Creio que na Copa do Mundo de Futebol de 2010 todos sentirão falta do Obina. Sim, o Obina. Não sei como o Brasil fará para suprir a ausência desse atleta.

Tenho informações de que o time da Nigéria convocou, por via das dúvidas, dois Obinnas. Na grafia do nome eles têm o acréscimo de uma letra ene, quanto ao futebol ainda não sei como se portam. Imagino que os Obinnas deles não farão tanto efeito quanto nosso único representante desse nome tão peculiar.

Manuel de Brito Filho ou apenas Obina, fará falta à seleção por um simples motivo: é o único jogador folclórico em atividade no futebol brasileiro. Folclórico porque é o único capaz de levar o esporte para além dos noventa minutos de partida. O povo se identifica com ele. Faz gols decisivos, mas também fica vinte partidas sem marcar. Dribla, levanta a torcida, mas também chora quando perde. Leva para o gramado o sentimento daqueles que estão na arquibancada.

Em edições que o Brasil sagrou-se campeão, o treinador foi sábio bastante para convocar jogadores do tipo folclórico. No primeiro título, em 1958, tínhamos o goleiro Manga, que mal conseguia fechar as mãos por ter quebrado os dedos enquanto defendia. Em 1962, Garrincha, o craque das pernas tortas iludia as defesas adversárias. No tricampeonato de 1970, talvez o mais folclórico de todos os boleiros estava no banco do Brasil, Dadá Maravilha, aquele que parava no ar, o homem do peito de aço, sempre tinha uma frase para surpreender os jornalistas.

Passado vinte e quatro anos, o povo já não suportava mais a carência de títulos. No ano de 1994, o técnico Parreira teve que ceder ao apelo popular e convocou o baixinho Romário. Resultado, tetracampeonato e “o cara” eleito o melhor jogador do mundo. Daquele ano em diante o Brasil tornou-se novamente um país a se respeitar em Copas do Mundo. Em 1998 fracassou, trouxe apenas o vice-campeonato. Mas em 2002 o penta foi conquistado. Entre os titulares, Ronaldo, ainda o “Fenômeno”, fazia gols e aumentava seu carisma com o povo. Até cortou o cabelo no estilo Cascão para fazer uma graça. Só que os verdadeiros jogadores folclóricos estavam novamente no banco de reserva. Os baianos Edílson e Vampeta.

Edílson, o Capetinha, era o jogador que driblava, fazia gols e subia o alambrado para comemorar com a torcida. Adorava dar entrevistas e sempre estampava os jornais com uma frase de efeito, principalmente se a seu lado estivesse Vampeta. O homem que era uma mistura de vampiro com capeta é lembrado até hoje pela ousadia de descer a rampa do Palácio da Alvorada fazendo cambalhotas. Disse que foi para cumprir uma aposta.

Ao que parece, nenhum desses vinte e três homens que foram para a África do Sul terão a ousadia de dizer o que ninguém diz. Fazer gols e lembrar da torcida antes das câmeras. Quebrar a mão se preciso.

O esporte ainda é coletivo. Mas cada jogador está mais individualista do que nunca. Os milhões de dólares que cobram para mudar de time é muito mais importante do que os milhões de brasileiros que representam. Espero que o hexacampeonato venha, mas a comemoração seria muito diferente se o Obina estivesse lá.

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