
Foram chamados para atuar. Atores novos. Pouca experiência, mas muita vontade de conhecer e vivenciar a carreira. Aceitariam qualquer papel, pelo simples prazer em praticar aquilo que era o centro de suas vidas naquele momento. E então surgiu um convite, foi para uma peça que exigia apenas a presença do casal, nada mais.
Ao conhecerem o enredo, e se conhecerem, pensaram que seria possível realizar o espetáculo. Parecia tudo muito simples. Ele falava, ela respondia e a história se desenrolava. Mas assim como na vida os atores não conseguem realizar um trabalho sem a interferência ou a ajuda de terceiros. Pois tal como os amigos ou parentes estão para nos aconselhar e compartilhar os sucessos e insucessos, assim também estão os diretores, produtores, figurinistas e outros sei lá quantos profissionais do ramo do teatro responsáveis por fazer com que toda a trama se desenrole de forma que a peça chegue ao fim satisfatoriamente. Com aplausos e críticas positivas.
E com toda a equipe formada eles tinham poucas semanas para levar ao público o fruto daquele trabalho. Criou-se muita expectativa sobre o que estaria por vir. Impossível não pensar nos “e se...”. E se eu cair no palco. E se esquecer a fala. E se tocar um celular. Enfim, vários motivos para fazê-los perderem horas de sono. A ansiedade pairava no ar.
Ele via naquela oportunidade uma chance de sentir novas experiências. De se entregar a uma paixão, mesmo que profissionalmente. Poucas vezes pensava no retorno financeiro, na fama. Às vezes, percebia que ela sentia o mesmo. Mas ela era inconstante. Não era clara em suas ações. Talvez fosse excesso de profissionalismo.
Para ele, sair de casa para o ensaio era uma alegria e uma surpresa a cada dia. Ele adorava a presença dela. A voz. O olhar enigmático dela. Tudo isso tornava a personagem ainda mais encantadora. Melhor ainda era quando estavam atuando. Tudo era perfeito.
A sintonia entre o casal era impressionante, apesar de sempre haver um diretor que insistia em interromper o andamento normal da história. O diretor insistia para os atores não perderem o “time” dos diálogos. Por isso, ora exigia pressa, ora pedia mais calma nas ações. E após dias de erros e acertos, o grande momento foi se aproximando e a tensão aumentando. Então o casal combinou de se encontrar duas horas antes do início da peça, para poderem se preparar e criarem um clima ideal para a estréia. Conversar seria muito bom para aprimorar o que faltava. Se é que faltava alguma coisa.
O ator chegou no horário combinado. Trouxe flores simbolizando um desejo de boa sorte. O detalhe é que as flores eram rosas vermelhas. Talvez ela percebesse o real sentido daquele gesto. Então os minutos foram passando e a atriz não aparecia. Primeiro pensou que fosse o trânsito. Ligou para o celular, mas ninguém atendia. Começou a imaginar coisas terríveis. O relógio tornou-se inimigo. Faltavam dez minutos. O diretor alertou para o tempo. O ator tentava disfarçar o nervosismo, a decepção.
Por fim, ela não veio. Nunca mais a viu. Com ele veio toda a vergonha. Os amigos, os parentes, os críticos e demais presentes souberam do ocorrido e começaram a especular as razões. Será que a culpa era dele? Será que ela não queria ter o desprazer de atuar com ele? Ninguém nunca soube. Talvez nunca saibam. Talvez achem uma nova atriz. A peça ainda pode ser apresentada. Reescrita. Com um final um pouco mais romântico, é claro.
Um comentário:
Cada dia ficam melhor.
Jú
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