terça-feira, 13 de maio de 2008

Procura-se MÃE. Que procura FILHA. (parte1)



Evangélica, ouvia diariamente uma rádio que tocava as músicas no estilo gospel. Tinha preferência pelas canções mais lentas. Com certo peso para o drama. Tristes talvez. Mas daquela vez foi diferente. Marlene pediu algo animado. Queria um louvor daqueles que o povo pula sem parar. Como num show de rock.

Ela estava no trabalho - era empregada doméstica - e queria se distrair. Queria tirar da mente aqueles pensamentos tristes. Aqueles que só aparecem na segunda semana de Maio. Quando todos tentam homenagear de alguma forma as mães.

Marlene não tinha nenhuma referência daquela que a trouxe ao mundo. Então quando o locutor da rádio entrou ao vivo com ela as respostas saíram com dificuldade. Pareciam que davam nó em sua garganta.

O alegre locutor perguntou: “Olá, boa tarde, com quem eu falo?” Então ela respondeu e o radialista logo começou aquelas perguntinhas triviais, do tipo onde mora, idade, trabalha onde, vai pedir qual música, dedica para quem e em seguida falou: “Marlene, você acaba de ganhar um CD para dar de presente para sua mãe. Tá bom?” Rapidamente ela respondeu:
- Eu não tenho mãe.
- Ela já está com Deus,né? Perguntou o embaraçado locutor.
-Não. Respondeu.
- Mas, mas... Explica esta história direito Marlene...
E então a doméstica começou a contar que não conhecia a mãe. Que sempre fora criada pela irmã mais velha. Mas como tudo é cronometrado em rádio, o locutor teve que encerrar o assunto e dar espaço para que outro ouvinte entrasse no ar.

Aquela curta conversa, que expôs uma parte triste de sua história, a deixou ainda mais deprimida. Nem percebeu que minutos depois a música que tinha pedido estava tocando. Naquele momento, os pensamentos estavam nas vezes em que fez falta ter uma mãe de verdade.

Ao longo de seus vinte e sete anos precisou da mãe na escola. No aniversário. Dia das crianças. Natal. Depois de uma briga com um coleguinha. E outras situações em que é preciso ter uma representante adulta. Mas Marlene também não sabia o que fazer quando na hora de tirar um documento não tinha alguém para preencher o espaço destinado ao nome da mãe. Quer dizer, na verdade tinha. Uma senhora que a adotou e a registrou, mas a abandonou logo que sua irmã completou dezoito anos. Mas a verdade é que os órgãos públicos brasileiros responsáveis por liberar tais documentos já têm um protocolo a seguir nestes casos. Pois não é incomum em nosso país encontrar uma criança abandonada.

Porém, o que a triste órfã não sabia era que em algum ponto do estado alguém a ouvia. Alguém sentiu familiar aquela história.

Em uma cidade do interior a senhora Elza ouviu tudo aquilo e não conseguiu conter o choro. Decidiu que precisava ter certeza do que estava imaginando. Conversou com o marido, que já conhecia aquela história do passado da esposa.

E assim, dois dias depois de ouvir o programa de rádio, Elza tomou o primeiro ônibus que a levava para a capital. Eram cinco horas de viagem por uma estrada cheia de curvas e trânsito intenso. Mas ela chegou e foi direto a sede da emissora.

Não imaginou que seria tão complicado. Na rádio era proibido revelar dados dos ouvintes premiados. Diante da negativa Elza chorou. E foi com este ato que conseguiu amolecer o coração da secretária, que ouviu atentamente cada palavra sobre a vida da infeliz dona-de-casa.

A moça que estava habituada a apenas sorrir, atender telefonemas, dar bom dia ou boa tarde e conferir nomes para não entregar o prêmio errado, teve que se sair como psicóloga.

Ouviu o desabafo de uma pessoa oprimida. Que diante dos ciúmes do pai teve de abandonar a casa quando engravidou pela primeira vez. E foi expulsa novamente quando Marlene nasceu. O marido desconfiou da autoria da paternidade. Então ela teve que ceder as filhas para adoção e recomeçar. Mudou de cidade e arrumou emprego. Lá conheceu o atual marido, que acompanha a vinte e um anos.

A secretária cedeu aos apelos da mãe e lhe entregou a ficha completa de Marlene. Endereço do trabalho e residência.

Feliz da vida dona Elza voltou para casa e já durante a viagem planejava o que fazer quando voltasse para reencontrar a filha.


Depois tem mais...

Um comentário:

Unknown disse...

Esta história até parece ser real. Será?
Gostaria de saber como seria o final. Fico Aguardando.